sábado, março 11, 2006



MST WATCH - O novo discurso

Até pouco tempo o discurso do MST era desapropriar terra improdutiva para reforma agrária, idéia vendida como a salvação da pátria, e isso justificava, pelo menos pra eles, a invasão de terras com uso de violência se necessário. Maquiavelismo? De qualquer forma ela, a reforma, está sendo feita.
Curioso é que mesmo naquela época a invasão de terras produtivas era um fato, mesmo que sempre veementemente negado pelo grupelho protoguerrilheiro e seus defensores. Tempos atrás cheguei discutir com um amigo que fazia uma defesa apaixonada do grupo, e dizia que nunca, jamais o MST invadiria terra produtiva. Parece que as coisas mudaram um pouco de lá pra cá.
Segundo as ações e as declarações de líderes do movimento, não apenas terras produtivas serão atacadas, mas monoculturas também! Qualquer coisa que não seja essencialmente produção de subsistência é potencial alvo da turba bárbara que assola o interior totalmente impune. O Rio Grande do Sul é um dos principais produtores de grãos do país e, segundo o que parece, provavelmente um dos principais alvos da guerrilha marxista.
Tempos difíceis despontam no horizonte...

"Não aceitamos que uma monocultura que não sustenta o povo, não dá alimento, possa ser considerada produtiva"
Valmir Assunção, da direção estadual do MST na Bahia

“A questão não é se as propriedades são produtivas ou não.”
Plácido Júnior, coordenador da Comissão Pastoral da Terra

“Queremos que a terra cumpra sua função social. Somos contra qualquer tipo de monocultura"
João Paulo Rodrigues, diretor nacional do MST

“Não está na pauta se esta propriedade é produtiva”
Líder do MST sobre a invasão da fazendo Coqueiros do Sul.

“Alguém já comeu eucalipto, alguém já comeu papel?”
Adivinhem quem..? o velho Stedile, claro.. Não me impressiona o fato do ilustre senhor não reconhecer a importância do papel, não mesmo! Acredito que ele faz apenas aquele uso eventual do papel ao qual todos nós, em algum momento do dia, somos obrigados a fazer.

Pretendia escrever mais sobre o ocorrido, mas a Raquel Recuero publicou um ótimo texto em seu blog.

quinta-feira, março 09, 2006


Freakonomics – ou como conseguir ser odiado

Que dizer deste livro? Se agradar a gregos e troianos é quase impossível, desagradar a ambos só os mestres. Steve Levitt e Stephen Dubner conseguem a difícil façanha de enfurecer tanto liberais quanto conservadores, direitistas e esquerdistas. Levitt é a mente por detrás da obra, o economista, e Dubner transforma idéias complexas em palavras inteligíveis, o escritor. É uma bordoada politicamente incorreta, desprovida de moralismos e emotivismos, recheada de dados estatísticos que apontam para fatos que a maioria de nós, mesmo inconscientemente, prefere não ver. Também não é feito juízo de valor, e os autores se abstém de assumir uma posição nos tópicos abordados. Aborto, racismo, criminalidade, educação e outros temas cristalizados pelo senso comum são encarados através da fria realidade dos números.
Se o amigo normalmente discorda e se enerva com o que lê por aqui, nessas plagas toscas, talvez a leitura da dita obra não seja recomendável...

O livro foi duramente criticado, os autores foram duramente criticados, mas a obra é um best-seller absoluto.É como aquele padre meio safado que não consegue não olhar para as pernas de suas fiéis, mas condena ao fogo do inferno os que se perdem nas curvas do carnal.

quarta-feira, março 08, 2006


Mulheres de fibra

Só pra não deixar a data passar em branco, vou postar o discurso que Ayaan Hirsi Ali fez na Alemanha, mês passado. Mulher, africana e politicamente incorreta é certamente uma combinação temerária no atual contexto mundial, o que não a impede de ser a ponta-de-lança de um movimento pró-Ocidente que, já era hora, está ganhando forças. Junto com ela uma outra feminista, a escritora Oriana Fallaci, também tem se exposto bastante com a publicação de livros que relatam alguns fatos que muita gente não quer reconhecer. Os livros ainda não foram lançados no Brasil, apesar de terem esgotado em toda Europa, EUA, Canadá e Austrália. E duvido muito que algum dia o sejam. O roteiro da segunda parte do curta “Submission” já está pronto, só falta alguém com culhões suficiente para lançá-lo, pois quem o fizer colocará a própria existência em risco.

O fio condutor do discurso é o “incidente dos cartoons”, mas a verdadeira questão de que trata é quase filosófica: devemos tolerar a intolerância? Leiam e tirem suas próprias conclusões. Tradução de Janer Cristaldo.

O DIREITO DE OFENDER
Ayaan Hirsi Ali

Estou aqui para defender o direito de ofender. Tenho a convicção que esta empresa vulnerável que se chama democracia não pode existir sem livre expressão, em particular nas mídias. Os jornalistas não devem renunciar à obrigação de falar livremente, da qual são privados os homens de outros continentes.

Minha opinião é que o Jyllands Posten teve razão ao publicar as caricaturas de Maomé e que outros jornais na Europa fizeram bem em republicá-las.

Permita-me retomar o histórico desta affaire. O autor de um livro infantil sobre o profeta Maomé não conseguia encontrar ilustrador. Ele declarou que os desenhistas se censuravam por medo de sofrer violências da parte dos muçulmanos, para os quais é proibido a qualquer um, onde quer que seja, representar o Profeta. O Jyllands Posten decidiu investigar a esse respeito, estimando - a justo título - que uma tal autocensura era portadora de graves conseqüências para a democracia. Era seu dever de jornalistas solicitar e publicar os desenhos do profeta Maomé.

Vergonha aos jornalistas e às cadeias de televisão que não tiveram a coragem de mostrar a seu público o que estava em causa na affaire das caricaturas! Estes intelectuais que vivem graças à liberdade de expressão, mas aceitam a censura, escondem sua mediocridade de espírito sob termos grandiloqüentes como responsabilidade ou sensibilidade.

Vergonha a estes homens políticos que declararam que ter publicado e republicado aqueles desenhos era "inútil", era um "mal", era "uma falta de respeito" ou "sensibilidade"! Minha opinião é que o primeiro-ministro da Dinamarca, Anders Fogh Rasmussen, agiu bem quando se recusou a encontrar os representantes de regimes tirânicos que exigiam dele que limitasse os poderes da imprensa. Hoje, nos deveríamos apoiá-lo moral e materialmente. Eu gostaria que meu primeiro-ministro tivesse tanto peito quanto Rasmussen.

Vergonha a estas empresas européias do Oriente Médio que puseram cartazes dizendo Nós não somos dinamarqueses, Aqui não vendemos produtos dinamarqueses! É covardia. Os chocolates Nestlé não terão o mesmo gosto depois disso, vocês não acham? Os Estados membros da União Européia deveriam indenizar as sociedades dinamarquesas pelas perdas sofridas pelo boicote.

A liberdade se paga caro. Pode-se muito bem despender alguns milhões de euros para defendê-la. Se nossos governos não vêm em ajuda a nossos amigos escandinavos, eu espero então que os cidadãos organizem coletas de doações em favor das empresas dinamarquesas.

Nós fomos submergidos em uma onda de opiniões nos explicando que as caricaturas eram ruins e de mau gosto. Disso resulta que estes desenhos não tinham trazido senão violência e discórdia. Muitos se perguntaram qual vantagem havia em publicá-los.

Bem, sua publicação permitiu confirmar que existe um sentimento de medo entre os escritores, cineastas, desenhistas e jornalistas que quisessem descrever, analisar ou criticar os aspectos intolerantes do Islã na Europa.

Esta publicação também revelou a presença de uma importante minoria na Europa que não compreende ou não está disposta a aceitar as regras da democracia liberal. Estas pessoas - cuja maior parte são cidadãos europeus - fizeram campanha em favor da censura, dos boicotes, da violência e de novas leis proibindo a "islamofobia".

Estes desenhos mostraram com evidência que há países que não hesitam em violar a imunidade diplomática por razões de oportunismo político. Vimos governos maléficos como o da Arábia Saudita organizar movimentos populares de boicote ao leite e iogurte dinamarqueses, enquanto esmagariam sem piedade todo movimento popular que reclamasse o direito de voto.

Estou aqui hoje para reclamar o direito de ofender nos limites da lei. Vocês talvez se perguntem: por que em Berlim? E por que eu?

Berlim é um lugar importante na história das lutas ideológicas em torno da liberdade. É a cidade onde um muro encerrava as pessoas no interior de um Estado comunista. É a cidade onde se concentrava a batalha pelos corações e mentes. Os que defendiam uma sociedade aberta mostravam os defeitos do comunismo. Mas a obra de Marx era discutida na universidade, nas rubricas de opinião dos jornais e nas escolas.Os dissidentes que tinham conseguido escapar podiam escrever, fazer filmes, desenhar, empregar toda sua criatividade para persuadir as pessoas do Oeste que o comunismo não era o paraíso na terra.

Apesar da autocensura de muitos no Ocidente, que idealizavam e defendiam o comunismo, apesar da censura brutal imposta ao Leste, esta batalha foi ganha.

Hoje, as sociedades livres estão ameaçadas pelo islamismo, que se refere a um homem chamado Muhammad Abdullah (Maomé) que viveu no século VII e é considerado como um profeta. A maioria dos muçulmanos são pessoas pacíficas, não são fanáticos. Eles têm perfeitamente o direito de serem fiéis às suas convicções. Mas, no seio do Islã, existe um movimento islâmico puro e duro que rejeita as liberdades democráticas e faz tudo para destruí-las. Estes islâmicos procuram convencer os outros muçulmanos que sua forma de viver é a melhor. Mas quando aqueles que se opõem ao islamismo denunciam os aspectos falaciosos dos ensinamentos de Maomé, eles são acusados de serem ofensivos, blasfemos, irresponsáveis - ou mesmo islamofóbos ou racistas.

Por que eu? Eu sou uma dissidente, como aqueles da parte leste desta cidade que foram para o Oeste. Eu nasci na Somália e passei minha juventude na Arábia Saudita e no Quênia. Eu fui fiel às regras editadas pelo profeta Maomé. Como os milhares de pessoas que manifestaram contra as caricaturas dinamarquesas, eu por longo tempo acreditei que Maomé era perfeito - que ele era a única fonte do bem, o único critério permitindo distinguir entre o bem e o mal. Em 1989, quando Khomeini lançou um apelo para matar Shalman Rushdie, eu pensava que ele tinha razão. Hoje, não penso mais assim.

Eu penso que o profeta Maomé errou em subordinar as mulheres aos homens.
Eu penso que o profeta Maomé errou ao decretar que é preciso assassinar os homossexuais.
Eu penso que o profeta Maomé errou ao dizer que é preciso matar os apóstatas.
Ele errou ao dizer que os adúlteros devem ser chicoteados e lapidados, e que os ladrões devem ter as mãos cortadas.
Ele errou ao dizer que os que morrem por Alá irão ao paraíso.
Ele errou ao pretender que uma sociedade justa possa ser construída sobre essas idéias.
O Profeta fazia e dizia boas coisas. Ele encorajava a caridade em relação aos outros. Mas eu sustento que ele também é irrespeitoso e insensível em relação àqueles que não concordavam com ele.

Eu penso que é bom fazer desenhos críticos e filmes sobre Maomé. É necessário escrever livros sobre ele. Tudo isto pela simples educação dos cidadãos.

Eu não procuro ofender os sentimentos religiosos, mas não posso me submeter à tirania. Exigir que os homens e as mulheres que não aceitam os ensinamentos do Profeta se abstenham de desenhar, não é um pedido de respeito, é um pedido de submissão.

Eu não sou a única dissidente do Islã, há muitos no Ocidente. E se eles não têm segurança pessoal, devem trabalhar com falsas identidades para se proteger da agressão. Mas ainda há muitos outros em Teerã, em Doha e Riad, em Amã e no Cairo, como em Cartum e Mogadiscio, Lahore e Cabul.

Os dissidentes do islamismo, como os do comunismo em outras épocas, não têm bombas atômicas nem nenhuma outra arma. Nós não temos o dinheiro do petróleo como os sauditas e não queimamos embaixadas nem bandeiras. Nós recusamos aderir a uma louca violência coletiva. Aliás, nós somos pouco numerosos e muito dispersos para tornar-se uma organização de qualquer coisa. Do ponto de vista eleitoral, aqui no Ocidente, não somos nada.

Nós temos apenas nossas idéias e não pedimos senão a oportunidade de expressá-las. Nossos inimigos utilizarão se necessário a violência para nos fazer calar; eles se dirão mortalmente ofendidos. Eles anunciarão por toda parte que nós somos seres mentalmente frágeis que não se deve levar a sério. Isto não é novo, os defensores do comunismo utilizaram à exaustão estes métodos.

Berlim é uma cidade marcada pelo otimismo. O comunismo fracassou, o Muro foi destruído. E mesmo se hoje as coisas parecem difíceis e confusas, estou certa que o muro virtual entre os amantes da liberdade e aqueles que sucumbem à sedução e ao conforto das idéias totalitárias, este muro também, um dia, desaparecerá.