
Boa Literatura
“É uma coisa maravilhosa essa calma da batalha. O nervosismo some, o medo voa para o vazio e tudo fica claro como cristal precioso. E o inimigo não tem chance porque é lento demais. Virei o escudo para esquerda, recebendo o golpe da lança do homem com cicatrizes, estoquei com Ferrão de Vespa, e o dinamarquês correu para a ponta da arma. Senti o impacto subir pelo braço enquanto a ponta penetrava nos músculos de sua barriga, e já estava torcendo-a, rasgando para cima e libertando-a, cortando couro, pele, músculos e tripas, e o sangue dele estava quente em minha mão fria, e ele gritou, hálito de cerveja no meu rosto, e eu o empurrei para baixo com a bossa pesada do escudo, pisei em sua virilha, matei-o com a ponta de Ferrão de Vespa em sua garganta. E então estávamos indo para frente. Uma mulher de cabelos soltos veio para mim com uma lança e eu a chutei com brutalidade, depois esmaguei seu rosto com a borda de ferro do escudo e ela caiu gritando numa fogueira em brasas. Seu cabelo solto se incendiou, luminoso como gravetos pegando fogo, a tripulação do Heahengel estava comigo, Leofric berrava para eles matarem, e matarem depressa. Esta era nossa chance de trucidar dinamarqueses que tinham feito um ataque idiota, que não haviam formado uma parede de escudos adequada, e era um trabalho de machado, um trabalho de espada, trabalho de carniceiro com ferro bom, e já havia mais de trinta dinamarqueses mortos e sete navios estavam queimando, as chamas se espalhando com uma velocidade espantosa”.
Bernard Cornwell é um skald dos tempos modernos. O último livro tem como pano de fundo as invasões vikings do século IX contra os saxões da Inglaterra, e, como sempre, a reconstrução do período histórico em questão é impecável. Também é uma biografia não ortodoxa de Alfredo, o Grande, que na visão do autor não era tão grande assim. Humor negro, violência medieval, sacrilégio, devassidão: Viking pra caralho!
PS: Pra variar, a edição brasileira fudeu com a arte de capa, normalmente feita sob indicação do próprio autor. O mesmo que fizeram com a trilogia arturiana: colocaram uns desenhozinhos infantilóides para atrair a atenção de jogadores de RPG o que, tenho certeza, deve funcionar. Cuspo no prato em que comi: RPG, pior!, jogadores de RPG são um saco.