Imigrantes, felicidade e o próspero terceiro-mundo
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Pretendeu-se em muitos países proibir aos cidadãos sair do lugar em que a ventura os fizera nascer. O sentido dessa lei é visivelmente este: ´nosso país é tão mau e tão mal governado que vedamos a todo o indivíduo dele sair, por temor que todos o desertem´. Fazei melhor: Infundir em todos vossos súditos o desejo de permanecer em vosso Estado, e aos estrangeiros o desejo de para aí vir". Voltaire, Igualdade
Creio ser um bom “termômetro” para medir a satisfação de uma população a análise de movimentos migratórios por ela realizado. As massas migram sempre em busca de um lugar melhor, ou que acreditam ser melhor, e nunca o contrário. Pessoas não fogem em desespero para lugares piores, e nunca quando estão felizes. Durante o regime soviético as pessoas do Ocidente não pulavam alucinadamente o muro de Berlim. Norte-americanos não se aventuram em um mar cheio de tubarões remando em uma banheira velha rumo a uma ilhota caribenha ou cruzam uma cerca fortemente vigiada por homens armados. Nunca ouvi falar em japoneses invadindo as Filipinas, Coréia ou China (no sentido pacífico do termo). Quem diabos pretende ir ao Oriente Médio em busca de uma vida melhor? Ou África? Em contra-partida pessoas desses lugares via de regra buscam uma vida melhor e mais feliz em outros lugares quando tem chance.
Isso tudo parece meio lógico, mas alguns não entendem assim. Exemplo recente é o tal
Happy Planet Index, um estudo que pretendeu classificar os países de acordo com a felicidade e bem-estar de seus habitantes: “
A new global measure of progress, the ‘Happy Planet Index’, reveals for the first time that happiness doesn’t have to cost the Earth. It shows that people can live long, happy lives without using more than their fair share of the Earth’s resources. The new international ranking of the environmental impact and well-being reveals a very different picture of the wealth, and poverty, of nations”. Segundo tal estudo, países ricos e prósperos, que gozam a felicidade de se dizerem primeiro mundo são os piores, se o que se busca é a famigerada felicidade. Muito melhor, por exemplo, viver no Congo do que na Inglaterra, na Nigéria do que no Canadá, em Gana do que na Suécia. Ou pelo menos as pessoas que vivem nesses países, em tese, tem menos razões para querer sair de sua terra natal (afinal são felizes) do que se poderia supor baseado no número de migrantes desses lugares que se encontram espalhados pelo mundo. Em termos de região, nada supera a América Central, quase todos os primeiros colocados, inclusive Cuba em 6º lugar, estão por ali. Deve ser efeito do sol caribenho... Mas o primeiríssimo lugar, o paraíso na Terra, vai para
Vanuato, uma ilhota da Oceania que mal pode ser localizada em um mapa.
O trabalho não diz isso objetivamente, mas deixa a entender que o progresso e, porque não?, o dinheiro não trazem felicidade. É uma balela tão grande quanto aquela que todos nós estamos acostumados a ouvir:
que para “chegar lá” estudo não é fundamental. Vivemos um tempo de escuridão - celebramos a pobreza, a ignorância e a estagnação.
Foto: alegres cubanos fugindo em desespero de sua Ilha da Fantasia, o sexto lugar mais feliz do mundo, para o triste e indesejado EUA em sua longínqua e infeliz centésima qüinquagésima posição.