O relativismo do discurso relativista
Quando o inteligente Einstein proferiu (proferiu?) a inteligente frase “tudo é relativo”, decerto não imaginou que algum dia pessoas levariam a cabo sua
máxima científica aplicando-a em teorizações político-sociais. Entender o discurso relativista, basilar no pensamento esquerdista nacional e mundial, é de fundamental importância, pois é com base no princípio de que
nada é absoluto que se justificam as ações que
em uma situação de normalidade seriam no mínimo questionáveis. Segue alguns exemplos de distorções lógicas que todos já ouviram pelo menos uma vez proferidas por um militante.
Não existe bandido, existe vítima da sociedade excludente.
Essa é bastante comum. Aqui é feita uma clara subversão da realidade: o criminoso é transformado em vítima, e sua vítima, bom, pela lógica é transformada em algoz. A mais evidente conseqüência nessa subversão é a de que, como vítima, o ex-bandido adquiriu legitimidade para reagir contra quem seria o verdadeiro criminoso: a sociedade – ou, na prática, um cidadão aleatório. Logo, quando ele pratica um crime está apenas exercendo seu direito de reação. Isso torna o latrocínio bastante ameno, não é mesmo? Não espanta saber que quando um bandido é pego e mandado para algum presídio, logo recebe o apoio de ONGs preocupadas com seu bem estar, e que nenhuma dessas entidades se preocupa com suas vítimas ou a família de suas vítimas.
Democracias liberais, em verdade, são ditaduras de mercado, e ditaduras socialistas de fato são democracias sociais.
Esta aqui está na boca de todo bom militante do PSTU. É uma forma bastante eficaz de fazer com que uma ditadura ideológica como a que existiu na ex-URSS, ou existe atualmente em Cuba ou na Coréia, seja benquista. Segundo reza esta tese, apesar da supressão de direitos individuais
desprezíveis como liberdade de pensamento e expressão, direito de ir e vir, direito de manifestação religiosa, e liberdades democráticas
ignóbeis como eleições para escolha de líderes, empreendimentos lucrativos, etc., as ditaduras de orientação marxista são democráticas porque,
em tese, oferecem à população acesso à educação, saúde e segurança, enquanto que em sociedades democráticas liberais tais coisas inexistem ou são totalmente ineficientes - vivem sob os auspícios de um sórdido mercado interesseiro. Bueno, nesse tópico vou me abster de fazer um ponto-a-ponto a fim de demonstrar ser um Estado totalitário antidemocrático, vou apenas usar um exemplo prático. Um comunista cubano tem liberdade de defender o marxismo no Brasil, um brasileiro jamais poderá defender a democracia em Cuba. É um paralelo interessante, pode ser empregado com sucesso com relação a teocracias islâmicas: um iraniano tem liberdade religiosa para adorar Alá em solo tupiniquim, mas um brasileiro corre sério risco de perder a cabeça em adorar Deus no Irã. Coincidência?
Não existe invasão de terras, existe ocupação, ou melhor, reocupação de terras que foram invadidas pelo grande capital.
Esta é atual, já vi gente argumentando nesse sentido. A grande sacada aqui é o eufemismo “ocupação” para uma invasão de propriedade, às vezes de forma violenta. Parte da premissa de que a legitimidade para ocupar a terra cabe apenas aos campesinos pobres, condenando o uso de terra para quaisquer outros fins que não de subsistência. Assim, mesmo que uma empresa, ou indivíduo tenham a posse e propriedade legal da terra, e que esta seja produtiva, estão sujeitos a ter seus direitos violados. É um bom exemplo do discurso relativista: os invasores aqui são os legais possuidores e proprietários, enquanto que a massa que invade a terra está apenas fazendo valer seu legítimo, e quase divino, direito à propriedade alheia.
Os três exemplos anteriores são mais recorrentes atualmente pelas esquerdas nacionais. Internacionalmente o terrorismo islâmico conquista espaço entre os comunistas radicais, que justificam tais atos de barbárie ao defender a tese de que os verdadeiros terroristas são as culturas ocidentais e sua política externa intervencionista. De súbito, se explodir junto a pessoas inocentes em pontos de ônibus passou a ser coisa não apenas legítima, mas até gloriosa: o terrorista é um mártir na luta contra o imperialismo liberal
estadunidense e ocidental. Levando esse discurso relativista a um extremo podemos citar os simpatizantes do Nacional Socialismo, que usam em suas teses revisionistas a mesma distorção lógica que as esquerdas para justificar o Holocausto. Seria, afinal, o Holocausto relativo?
Em teoria qualquer coisa, como disse Einstein (se é que disse), pode ser alvo do relativismo. A verdadeira questão é saber se tudo
deve ser relativizado, pois afinal,
se tudo é relativo então tudo é permitido.